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RG de aposentados foram usados para fraudar benefícios do INSS

Golpistas utilizavam a foto do documento para roubar benefícios do INSS mediante a solicitação da biometria facial.

As fraudes relacionadas ao Instituto Nacional do Seguro Social têm se tornado cada vez mais evidentes e preocupantes, especialmente porque afetam diretamente a vida de aposentados e pensionistas que dependem dos seus benefícios para sobreviver.

A descoberta de esquemas bilionários envolvendo descontos indevidos em benefícios previdenciários mostra como grupos organizados exploraram brechas no sistema e manipularam ferramentas digitais para enganar tanto os beneficiários quanto o próprio órgão federal.

Relatórios oficiais revelam que entidades, empresas de tecnologia e dirigentes de associações participaram ativamente dessas fraudes, utilizando documentos falsificados, assinaturas digitais questionáveis e até biometria facial adulterada.

Foi constatada a utilização de documentos de aposentados para fraudes nos benefícios do INSS.
Foi constatada a utilização de documentos de aposentados para fraudes nos benefícios do INSS. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / bolsadafamilia.com.br

Fraudadores usaram RG de aposentados para roubar benefícios

Documentos da Controladoria-Geral da União revelaram que associações e sindicatos utilizaram cópias xerocadas e até imagens manipuladas de RG para fraudar a biometria facial. Essa prática tinha como objetivo validar filiações inexistentes de aposentados e, com isso, autorizar descontos indevidos.

A fraude ficou ainda mais evidente quando fotos antigas ou artificialmente coloridas apareceram nos registros, ocupando o espaço reservado às selfies atuais que deveriam comprovar a anuência do aposentado.

Essa estratégia enganava os sistemas de autenticação, mas não resistia à análise detalhada. A gravidade da situação aumenta porque aposentados passaram a descobrir que contribuições a entidades desconhecidas estavam sendo descontadas de seus benefícios sem qualquer autorização.

Muitas vítimas recorreram à Justiça, e os juízes, diante das provas frágeis, recusaram as imagens como indício válido de consentimento. Um caso emblemático envolveu a Cenap.Asa, descredenciada pelo INSS após inúmeras denúncias e hoje alvo de processos judiciais.

Reclamações no site Reclame Aqui relatam que aposentados descobriram descontos indevidos e citaram diretamente empresas de tecnologia ligadas à falsificação documental. O episódio demonstra como fraudadores exploraram a confiança de idosos para ampliar seus lucros.

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Como o esquema de fraude dos benefícios funcionava?

As fraudes não se limitavam à manipulação de fotos. Segundo a apuração da CGU, diversas entidades contrataram empresas de tecnologia que criaram sistemas específicos para produzir fichas falsas de filiação.

Com esses recursos, era possível gerar contratos aparentemente legítimos, mas que escondiam manipulações digitais sofisticadas. Plataformas eletrônicas foram utilizadas para simular legalidade e burlar exigências previstas pelo INSS, incluindo biometria digital e facial.

Entre as empresas investigadas estão a Power Bi, a Dataqualify e a Confia, todas acusadas de fornecer ferramentas para viabilizar as falsificações. Apenas entidades ligadas à Power Bi movimentaram R$ 1,4 bilhão em descontos indevidos, o que demonstra a dimensão do esquema.

A conexão entre dirigentes de associações e empresas fornecedoras também chamou a atenção, já que alguns empresários atuavam ao mesmo tempo como validadores e beneficiários das operações fraudulentas. Essa mistura de interesses impediu a transparência e favoreceu o crescimento do esquema.

Outro exemplo de fraude envolveu assinaturas digitais manipuladas. Em um processo judicial, uma associação apresentou contrato eletrônico como prova de filiação, mas a geolocalização da assinatura demonstrou que o suposto aposentado estava a centenas de quilômetros do local indicado.

A Justiça, então, desconsiderou o documento e condenou a entidade. Esses episódios revelam como o sistema foi manipulado de maneira estruturada para garantir ganhos ilícitos e multiplicar os prejuízos sofridos pelos beneficiários do INSS.

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Responsabilização dos fraudadores

A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, foi um marco no combate a esse esquema bilionário, já que investigou associações, dirigentes e empresas responsáveis pelas fraudes. Nos pedidos encaminhados à Justiça, a PF listou dezenas de reportagens que ajudaram a comprovar os desvios.

A apuração mostrou, inclusive, vínculos entre os acusados e figuras políticas, além de doações eleitorais suspeitas. Esses detalhes reforçam o quanto o problema se expandiu para além da esfera administrativa do INSS.

Os tribunais também tiveram papel crucial na responsabilização. Juízes passaram a rejeitar contratos e fichas de filiação apresentados como prova de consentimento, destacando que os documentos careciam de informações básicas para garantir autenticidade.

Em diversas sentenças, associações foram condenadas a devolver valores descontados e a reparar os danos causados aos aposentados. Esse movimento judicial fortalece o entendimento de que a simples apresentação de assinaturas digitais ou fotos não basta para comprovar filiação legítima.

Além da atuação do Judiciário e da Polícia Federal, a CGU segue investigando empresas de tecnologia envolvidas no esquema. O órgão identificou que associações contrataram serviços diretamente ligados a seus próprios dirigentes, criando um círculo fechado de interesses que inviabilizou o controle adequado.

A responsabilização dos envolvidos, portanto, vai além de medidas administrativas: envolve a necessidade de bloquear ganhos ilícitos, recuperar recursos desviados e garantir que os benefícios previdenciários permaneçam protegidos de fraudes semelhantes no futuro.

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Nicole Ribeiro

Graduanda em Jornalismo na pela Universidade do Estado de Minas Gerais, formada em Letras - Português também pela UEMG. Redatora freelancer e revisora de artigos e textos acadêmicos. Apaixonada por gatos e pelo conhecimento.

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