Mais de 750 mil famílias aguardam para receber o Bolsa Família
Milhares de famílias ainda esperam na fila para receber o pagamento do Bolsa Família. Ao mesmo tempo, muitas pessoas deixaram o benefício.
O Bolsa Família permanece como um dos programas sociais mais emblemáticos do Brasil, reconhecido por reduzir a pobreza e promover a inclusão social de milhões de famílias em situação de vulnerabilidade. Desde sua criação, o benefício tem funcionado como um instrumento essencial para os brasileiros.
Isso porque ele atua na redistribuição de renda, garantindo acesso à alimentação, saúde e educação para comunidades historicamente marginalizadas. Contudo, a manutenção de um programa dessa magnitude exige gestão rigorosa, orçamentos equilibrados e constante atualização de dados.
Em 2025, novas dinâmicas surgiram no cenário social e fiscal brasileiro, impactando diretamente o funcionamento do programa. Com isso, a relação entre demanda, orçamento e fiscalização passou a influenciar fortemente o número de famílias atendidas e o ritmo de inclusão de novos beneficiários.

Neste artigo, você vai ver:
Fila do Bolsa Família encerra setembro com 750 mil em espera
O Bolsa Família encerrou setembro de 2025 com uma fila de espera expressiva, somando 750 mil famílias pré-habilitadas aguardando a inclusão no programa. Esse número reflete o acúmulo de solicitações não atendidas nos últimos meses, quando os beneficiários diminuíram significativamente.
Em setembro, havia 848 mil famílias pré-selecionadas, mas apenas 97 mil conseguiram ser inseridas, o que representa 11,4% do total. Essa tendência já vinha sendo observada em agosto, quando, entre 823 mil famílias habilitadas, apenas 114 mil passaram a receber o benefício, equivalente a 13,8%.
A fila de espera não é um fenômeno inédito na história do Bolsa Família. Em diferentes períodos, o número de famílias na fila ultrapassou a marca de um milhão, o que revela o desafio contínuo de equilibrar as entradas e saídas no sistema.
Em 2025, a fila de setembro representou a segunda maior do governo Lula, ficando atrás apenas de julho de 2023, quando 966 mil famílias aguardavam atendimento. Após uma redução significativa no primeiro semestre de 2024, o problema voltou a crescer no segundo semestre de 2025.
Meses com mais famílias na fila de espera
- Maio de 2015: 1.919.952 famílias
- Abril de 2015: 1.860.332 famílias
- Março de 2020: 1.655.873 famílias
- Junho de 2015: 1.636.341 famílias
- Fevereiro de 2020: 1.590.240 famílias
Mesmo com avanços tecnológicos e revisão constante do Cadastro Único, a fila segue como um dos principais desafios da política de transferência de renda. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), não há prazo fixo para inclusão.
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Orçamento apertado
O orçamento do Bolsa Família para 2025 atingiu o limite operacional, o que inviabiliza a criação de novas vagas até o fim do ano. O valor aprovado pelo Congresso foi de R$ 158,6 bilhões, o que representa uma redução de R$ 9,6 bilhões em comparação com o ano anterior.
Desse montante, R$ 120 bilhões já foram utilizados até setembro, restando apenas o suficiente para manter as famílias atualmente beneficiadas. Com base na folha de setembro, que custou R$ 12,9 bilhões, o MDS precisará de cerca de R$ 38,7 bilhões para encerrar o ano, sem margem para novas inclusões.
Esse cenário financeiro explica por que o número de famílias atendidas caiu de 20,5 milhões em junho para 19 milhões em setembro. A redução reflete a dificuldade do governo em ampliar o alcance do programa diante de restrições fiscais.
O MDS afirmou que os fluxos de entrada e saída ocorrem mensalmente e dependem do orçamento e das condições fiscais do país. Além disso, ressaltou que cada inclusão passa por uma análise automatizada que considera elegibilidade, atualização cadastral e consistência das informações do CadÚnico.
Mesmo diante das dificuldades, o governo ainda não anunciou se fará um pedido de suplementação orçamentária. A ausência de resposta sobre esse tema mantém incertezas para as famílias que aguardam o benefício.
A falta de recursos demonstra o impacto direto da limitação fiscal nas políticas sociais, que precisam equilibrar metas de responsabilidade financeira com a crescente demanda por assistência. Assim, o Bolsa Família enfrenta o desafio de preservar sua abrangência e eficiência dentro de um orçamento.
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Por que o atendimento do Bolsa Família foi reduzido?
A queda no número de beneficiários tem múltiplas explicações, ligadas tanto ao orçamento quanto à revisão cadastral e ao fim de regras temporárias. Um dos fatores principais foi o encerramento da regra de proteção, criada em julho de 2023.
Basicamente, ela garantia por mais 24 meses o pagamento do benefício a famílias que haviam superado a linha da pobreza. Em julho de 2025, o prazo terminou e 536 mil famílias foram desligadas do programa. Essa política tinha como objetivo ajudar as famílias a alcançar autonomia financeira, mas acabou.
Outro motivo foi o pente-fino realizado pelo MDS em 2025, que buscou eliminar cadastros irregulares e registros desatualizados. Em agosto, 576 mil famílias tiveram seus pagamentos cancelados definitivamente, principalmente por não atenderem à convocação de atualização cadastral.
Além disso, outras 675 mil famílias tiveram os benefícios bloqueados por inconsistências detectadas na averiguação dos dados. O processo de revisão, determinado por uma instrução normativa publicada em fevereiro, estabeleceu dois níveis de checagem:
- averiguação cadastral, voltada a possíveis inconsistências;
- revisão cadastral, destinada a registros sem atualização recente.
O programa também enfrenta suspensões causadas pelo descumprimento das condicionalidades. Famílias com crianças precisam comprovar frequência escolar e vacinação regular, sob pena de bloqueio. Em agosto, 40 mil famílias tiveram o benefício suspenso.
O motivo foi não apresentarem essas comprovações pelo segundo mês consecutivo. Nesses casos, os beneficiários recebem notificações via extrato bancário ou aplicativo e dispõem de 60 dias para corrigir as informações.
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