Benefícios

Bancos poderão descontar pagamentos direto da aposentadoria após aprovação de nova lei

Uma nova lei aprovada concede que bancos descontem pagamentos diretamente do benefício de segurados do INSS, o que levantou a pauta do endividamento desse grupo.

Os benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social, conhecidos popularmente como aposentadorias e pensões do INSS, representam fonte essencial de renda para milhões de brasileiros, que muitas vezes só têm essa possibilidade de renda.

Além de garantirem segurança financeira a trabalhadores que contribuíram ao longo da vida, esses valores movimentam a economia em milhares de municípios do país, especialmente nas regiões em que a aposentadoria rural tem forte impacto.

Por isso, qualquer mudança na forma de recebimento ou de descontos diretos sobre esses pagamentos merece atenção redobrada da sociedade. Em meio a um cenário de debates sobre endividamento, parlamentares discutem mecanismos que podem alterar a rotina de milhões de segurados.

Os aposentados devem ficar atentos aos pagamentos de benefícios.
Os aposentados devem ficar atentos aos pagamentos de benefícios. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / bolsadafamilia.com.br

Câmara aprova desconto de pagamentos direto nos benefícios do INSS

A Câmara dos Deputados aprovou, em setembro, a retomada dos descontos bancários diretos em aposentadorias e pensões do INSS para quitar operações de antecipação de valores. Essa decisão reacendeu o debate sobre o risco de endividamento dos beneficiários.

Por isso, especialistas alertam para custos possivelmente maiores do que os do crédito consignado tradicional. O texto foi incorporado a um projeto mais amplo de combate a fraudes previdenciárias, o que explica a intensidade das discussões no plenário.

O substitutivo aprovado transfere do Conselho Nacional de Previdência Social para o Conselho Monetário Nacional a definição do teto de juros do consignado. Além disso, não estabelece um limite explícito de taxas ou encargos sobre a antecipação.

Esse ponto se tornou a principal polêmica, pois abre margem para bancos ofertarem produtos mais caros. Deputados contrários argumentaram que a ausência de travas pode afetar diretamente o poder de compra dos segurados, já que os pagamentos do INSS são muitas vezes a única renda das famílias.

Exceções dos descontos

A versão final do projeto também estabeleceu restrições importantes. Enquanto sindicatos e associações não poderão mais realizar descontos diretos de mensalidades na folha do INSS, mesmo com autorização do beneficiário, os bancos ganharam autorização para reter valores de operações de antecipação.

Essa escolha legislativa gerou críticas, já que muitos parlamentares apontaram contradição em restringir cobranças associativas e, ao mesmo tempo, abrir espaço para o setor financeiro ampliar sua atuação. Dessa forma, o modelo resgata práticas semelhantes às do antigo programa “Vale” do INSS.

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Como ocorreu a votação?

O dispositivo sobre antecipação de pagamentos foi mantido após a rejeição de um destaque apresentado pelo PSB, que buscava excluir essa possibilidade do texto. O placar de 259 votos a 126 consolidou a vitória do relator, deputado Danilo Forte, e de partidos do centrão aliados à oposição.

A base governista tentou barrar a medida, mas não conseguiu votos suficientes para reverter o resultado. Essa divisão no plenário demonstrou como o tema é sensível e envolve diferentes interesses políticos e econômicos.

O relator argumentou que a medida passou por diálogo com a Casa Civil e destacou que o Conselho Monetário Nacional deve definir tecnicamente os limites de juros. Agora, há uma espera pela decisão que pode afetar os pagamentos.

Ele também afirmou que, embora tenha recebido sugestões para incluir a expressão “sem encargo financeiro para o beneficiário”, a versão final não trouxe essa garantia explícita. Para defensores da proposta, o mecanismo oferece mais alternativas de crédito aos segurados.

Quais os próximos passos?

Após a aprovação na Câmara, o texto segue para análise no Senado Federal. Caberá aos senadores decidir se mantêm, ajustam ou excluem o dispositivo que autoriza a antecipação descontada diretamente nos benefícios do INSS.

Além disso, o projeto também endurece regras de segurança para novas contratações de consignado, como exigência de autenticação biométrica e bloqueio automático do benefício após cada operação. Portanto, o debate ainda está em aberto e poderá sofrer alterações antes de uma eventual sanção.

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Por que isso é um problema para os pagamentos?

Especialistas alertam que, sem a fixação de um teto de juros específico, a antecipação pode se transformar em uma modalidade mais onerosa do que o consignado. Como não há limite vinculado à renda nem obrigação de quitar no mês seguinte, bancos podem ofertar prazos e encargos maiores.

Isso aumentaria o custo efetivo total do crédito, reduzindo ainda mais o valor líquido que o beneficiário recebe mensalmente. Dessa forma, o risco é comprometer a sustentabilidade dos pagamentos do INSS para milhões de aposentados e pensionistas.

O histórico recente reforça essas preocupações. O programa Meu INSS Vale+, lançado em 2024, permitia a antecipação de pequenos valores sem juros, mas logo foi alvo de denúncias sobre tarifas ocultas cobradas por instituições financeiras.

A iniciativa acabou suspensa em 2025 após pressão da sociedade e investigações de órgãos de controle. Esse episódio mostrou como a falta de regras claras pode abrir brechas para abusos e perdas significativas para os segurados.

Por fim, entidades representativas do setor bancário, como a Febraban e a ABBC, manifestaram reservas à medida aprovada. Embora neguem ter articulado a inclusão da antecipação no projeto, alertaram para a ausência de controles e para o risco de superendividamento da população idosa.

Nesse cenário, a manutenção dos descontos diretos sobre os pagamentos do INSS pode criar um problema social de grandes proporções, exigindo acompanhamento atento do Senado, dos órgãos reguladores e da sociedade civil.

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Nicole Ribeiro

Graduanda em Jornalismo na pela Universidade do Estado de Minas Gerais, formada em Letras - Português também pela UEMG. Redatora freelancer e revisora de artigos e textos acadêmicos. Apaixonada por gatos e pelo conhecimento.

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